03/02/2011

Voltando

Minhas aulas na faculdade recomeçaram e, como já contei aqui, retomar uma rotina é muito angustiante para mim. Fui no segundo dia e me sufoquei quando vi a grade de disciplinas e os estágios supervisionados. Os professores nos colocam mais peso ainda, falando das responsabilidades, das vestimentas, das regras e protocolos. Saí de lá zonza, pelo remédio e pelo medo do que terei que enfrentar.

Pois bem, resolvi tomar o remédio que meu psiquiatra passou. Me sinto muito alterada, as vezes com a vista dupla, as vezes com ansiedade duplicada, mas as vezes bem. Sim, tenho me sentido melhor em alguns momentos que são poucos ainda, mas creio que logo se tornarão mais frequentes. Pelo menos é isso que o psiquiatra afirma que vai acontecer.

E espero logo me readaptar a faculdade de novo, senão não sei como será esse semestre tão difícil...

29/01/2011

Remédio

Estive no meu psiquiatra e conversei sobre a questão de ter filhos que é uma das questões da minha vida que não consigo resolver. Hora quero muito, acho seria a melhor experiência, apesar de todos os desafios. Hora não quero nem pensar, me sinto incapaz de cuidar de uma criança e com medo de deixá-la anti social como eu.
Ele me disse que preciso parar com os pensamentos obssessivos e negativos sobre mim mesma e me passou um remédio. Relutei muito em tomar, mas meu marido me convenceu a tentar por alguns meses.
Comecei ontem, meio comprimido, 5mg e estou aqui com a cabeça zonza, me sentindo estranha.
Detesto sair daquilo que considero normal.

25/01/2011

Rotinas

Hoje termina o feriado e meu marido vai chegar à qualquer momento.
Isso está me deixando angustiada e com vontade de me esconder.
Isso tudo depois de passar esses dias todos chorando de solidão...

Parece loucura ? Mas não é, isso se chama Asperger...

Sair da rotina é difícil para mim, me faz sofrer.
Retomar uma rotina também é delicado, me deixa angustiada.

Mas o que são 5 dias separados para quem vive há 15 anos juntos ?
Aqui não é o tempo que está contando, mas a rotina. Minha cabeça funciona assim, pensa de forma concreta demais. Para mim, esses 5 dias sozinha e no escuro, sem sair de casa nem falar com ninguém, se tornaram como uma rotina. Sofrida, mas ainda assim uma rotina. Agora terei que deixá-la e retomar a de antes.

Mas sei que vou me adaptar novamente ao meu marido e à nossa vida em comum.
É questão de alguns dias.
E eu quero que passe logo, assim como também quero que passe logo o reinício das aulas na faculdade que é outra coisa que está me deixando com medo e angustiada.

Rotinas...

24/01/2011

Mudanças

Olá para quem vem aqui.

Nesse blog eu conto toda a minha história, desde a infância até hoje e de como a Síndrome de Asperger afetou e afeta a minha vida.
Por ter aberto coisas muito particulares, resolvi deixar privado o link "Fases" na barra acima onde fiz uma auto biografia contando em detalhes cada faixa etária.
Mas se você tiver interesse em ler e quiser acessar é só me escrever que libero o link.

E-mail: alice.aspie@gmail.com

A propósito, o objetivo desse blog é a troca de experiências com outros Aspies ou com quem conhece um, então todo comentário será respondido com atenção e será muito bem vindo.

Obrigada.

22/01/2011

Sozinha

Sábado a noite. A cidade ferve. As pessoas querem se divertir, se ver. Saem de suas casas em busca umas das outras, das baladas, dos lugares bacanas, dos prazeres da vida. Elas vivem.

Sábado a noite e eu aqui sozinha, no breu. Já ouvi 300 vezes "Here With Me", já olhei 800 vezes pela janela e vi todos aqueles prédios com luzinhas acesas. Quanta gente... todas elas vivem ?

Me sentei no telhado, não há ninguém ao redor para me estranhar. Senti o vento e pensei no quanto eu não sei viver. Apenas deixo os dias passarem. Durmo, acordo, empurro as horas, os minutos que voam e, ao mesmo tempo, se arrastam.

Sim, o tempo está passando, estou ficando mais velha e ainda não sei viver e nem sei onde conseguir a receita para isso. Remédios ? Não creio...

Preciso me sustentar. E se eu ficar sozinha de vez ? Como vou sobreviver ?
Tenho que perder o medo das pessoas, me formar, trabalhar.

Queria muito, muito ser outra pessoa.

21/01/2011

Como Faço Para Sumir de Vez ?

Ele me deixou sozinha e foi viajar com amigos nossos. Eu insisti para que fosse, jamais teria o direito de pedir que ficasse. Acho que ele tem que se divertir porque viver comigo sempre deprimida e sem saber quem sou direito deve ser uma tortura.

Mas, acontecesse o que fosse, eu jamais o deixaria sozinho, ainda mais triste. Mesmo que estivesse cheia da vida, cansada de tudo, eu ficaria com ele.
Não posso querer que todo mundo tenha uma fidelidade aspie como a minha, isso é para poucos... e faz sofrer.

Além do mais, acho que faço mal a ele, ele tem se isolado, pegado o meu jeito. Está adoecendo socialmente, como se eu,  além de inadequada o tempo todo, fosse contagiosa também.
E ele é uma pessoa maravilhosa demais, que merece que tudo dê certo em sua vida e talvez passe a dar se ele se afastar de mim.

Acho que eu morreria sem ele, mas antes uma pessoa inútil e estranha como eu deixar de existir do que uma pessoa maravilhosa, generosa e ótimo profissinal como ele deixar de ter sucesso e prosperidade.
Tenho pensado muito nisso, muito mesmo...

Afinal, para que é que eu existo mesmo ?

16/01/2011

Miados

Após aquela crise terrível, fiquei ainda meio abalada e tudo o que eu queria era me acalmar.
Mas eis que chego em casa das compras e ouço um gatinho miando desesperadamente.
Pronto, foi o suficiente para me tirar o chão... quem me conhece sabe do meu imenso amor por animais.
Fiquei tão transtornada que meu marido, talvez por piedade, foi pegar o gatinho para mim, dizendo que depois daríamos um jeito de dá-lo para alguém.
Desde então ele tem me feito rir, com suas brincadeiras e gracinhas e tem sido bom.
Ficou sendo meu presente antecipado de aniversário.

12/01/2011

Crises

As vezes tenho umas crises de desespero.

Hoje eu estava conversando com meu marido a respeito dele estar passando muito tempo dentro de casa. Ele tem um home office e, desde que começou a trabalhar em casa, passou a perder contato com as pessoas do seu meio profissional. Ele que era tão extrovertido, cheio de amigos, vivia nos happy hours, começou lentamente a ficar como... eu ?

Não quero isso para ele, não o quero na solidão, sentindo-se longe do mundo. Primeiro porque sei o quanto isso é ruim e depois porque me sinto culpada, pois ele foi se moldando ao meu jeito de ser durante todos esses anos juntos.

Então fui conversar com ele, dizer que ele devia marcar de sair com os amigos, fazer alguns trabalhos fora, respirar novos ares como ele sempre fez. E falei do quanto me fazia mal saber que o meu comportamento o estava afetando. Ele, de início não quis concordar que fosse por minha causa, mas conforme fui falando, ele foi concordando.

Num certo momento, me bateu uma tristeza tão grande por eu ser assim, por não poder acompanhá-lo para o mundo, por desagradar tanto as pessoas... me veio à mente os últimos acontecimentos do fim de ano, a maldade de algumas pessoas, a rejeição que estou vivendo num grupo virtual que participo, aquilo tudo foi se misturando e explodiu numa crise como eu não tinha há algum tempo.

Nessas crises eu choro compulsivamente, sinto um desespero tão profundo, uma vontade de não existir, não consigo falar, me ausento, fico numa posição estranha e não adianta ninguém tentar falar comigo que não ouço, não reajo, fico com os olhos parados e respirando bem fundo. Meu marido me descreve o que vê e o quanto fica desesperado.

Nessa hora da ausência total, eu não me lembro do que sinto, lembro-me apenas que, um pouco antes de entrar nesse estado, sinto um desepero tão grande que só quero sumir do mundo. Acho que é aí que me ausento. Já fazia isso quando era pequena, com grande habilidade, quantas vezes eu quisesse. Agora, adulta, não faço mais espontaneamente, só quando tenho essas crises.

Eu realmente espero que o tratamento psiquiátrico me ajude a nunca mais sentir isso e nunca mais fazer com que meu marido e nem ninguém me veja assim.
Não quero mais desagradar as pessoas, não quero mais ser solitária nem levar quem eu amo para dentro das minhas limitações. Quero ampliar meus horizontes. Preciso disso.

07/01/2011

Não entendo

Não entendo porque as vezes eu desagrado as pessoas. E elas não me falam por causa da tal regra social que não permite dizer às pessoas tudo o que se pensa delas.
Acho que é por isso que, ao invés de simplesmente dizer o que as incomoda, as pessoas preferem desprezar e ignorar quem as desagrada, até que essa perceba e se afaste por iniciativa própria.

Mesmo com minha preferência pela solidão e silêncio, desde que me tornei adulta entendi que preciso viver em sociedade para sobreviver: estudar para ter uma profissão, trabalhar para me sustentar.
E só estou conseguindo buscar isso agora, bem depois dos trinta...
Por isso, ser aceita pelas pessoas é um objetivo de vida para mim e espero que eu consiga aprender como fazer isso.


03/01/2011

Fim de Ano

Estar entre pessoas, confraternizar são coisas bem difíceis pra mim. Me sinto quase sempre inadequada no meio das pessoas, nunca sei se o que vou falar vai desagradar.
As pessoas agem de forma peculiar nas festas: conversam animadamente com quem não gostam, elogiam quem criticam, fazem poses e expressões curiosas.

Eu aprendi diversas regras sociais, como sorrir para as pessoas e olhar na direção do seu rosto quando falam comigo, demonstrar interesse, concordar ou discordar com sutileza para não parecer falta de educação ou petulância. Apesar de achar que eu faço algumas dessas coisas com certa presteza, tenho que confessar que ainda fico muito confusa em festas, ainda me cansa extremamente e ainda prefiro estar no silêncio e sozinha, mas sei que é preciso confraternizar, especialmente nas festas de fim de ano. Se quero viver em sociedade e ser aceita, preciso vencer mais essa barreira.

Desde que nossa casa ficou pronta, as festas de fim de ano são aqui porque meu marido adora dar festas e sua família é muito unida e animada. Então são eventos em que aproveito para exercitar o que aprendi e são boas oportunidades para isso, pois estou entre familiares e pessoas que conheço há um bom tempo e com quem me sinto mais a vontade.
Alterno momentos de convivência com momentos de solidão. Como minha casa é um sobrado, quando estou exausta do barulho das conversas, subo para o meu quarto, fecho a porta e busco o silêncio por algum tempo.

As pessoas perguntam de mim, algumas acham estranho eu me ausentar, mas logo alguém diz que estou cansada por ter organizado toda a festa e fui descansar um pouco. Então minha atitude termina sendo aceita, ainda que parecendo inapropriada para alguns.

Apesar de aprender todas essas regras ao longo da minha vida, sei que ainda tenho muito o que aprimorar e aprender e espero que eu consiga, cada vez mais, ser aceita e agir dentro das regras com naturalidade e sem desconfortos.

O que eu queria mesmo era ser aceita como sou, mas as pessoas simplesmente não entendem alguém que não olha nos olhos, que prefere ficar sozinha e interagir só de vez em quando e do seu modo, que não demonstra sentimentos de forma explícita e que prefere mais observar do que falar. Isso tudo é muito estranho para a grande maioria delas.
Então o que tenho que fazer é me adequar à essa maioria para encontrar um lugar nesse imenso e complicadíssimo grupo que é a "sociedade" e é isso que busco. Todos os dias.

01/01/2011

Início

Esse blog é uma tentativa de expor ao mundo a forma como sou e sinto as coisas.
E uma tentativa de encontrar pessoas que sejam e sintam da mesma forma.